João Pé-de-Chinelo na estrada!
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Ao grupo Manjericão
Sofisticada estrutura narrativa
*
Por Flavio Melo
Nesta
quarta feira dia onze de novembro de 2009, tive a honra de assistir o grupo
Manjericão, do Rio Grande do Sul, com a apresentação do espetáculo “O Dilema do
Paciente”, apresentado na 4ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas na cidade de
São Paulo - SP, Vale do Anhangabaú.
Dentre
tantas coisas boas, fui impressionado já com a chegada dos artistas no Vale, os
figurinos alegres e bem elaborados, as musicas tocadas ao vivo e a criativa forma
de carregar seus instrumentos, já dispostos para tocar, pude apreciar uma
sofisticada proposta de estrutura narrativa destacada de todos os outros
elementos bons contidos na peça.
No
primeiro momento, a peça é apresentada aos espectadores como uma simples forma
narrativa, um ator interpretando um palhaço, pouco texto literário e muito
texto gestual. Assim segue durante a primeira cena. O que tem isso de
sofisticado? Nada, até que entra um terceiro personagem, um ator interpretando
um médico. Ambos com nariz.
Neste
momento, é revelada a forma narrativa que vou chamar de desnuda, explicita e
assoalhada. Com a entrada deste terceiro, o que era simplesmente um ator
interpretando um palhaço se mostra um ator em pleno exercício de distanciamento
potencializado. Ator atuando sobre uma palhaço que reafirma sua condição de
ator igualando-se aos espectadores e transeuntes daquela praça e todos os seres
humanos que se encontram na mesma situação narrada, agora com maior utilização
dos recursos literários e sem abrir mão do texto gestual, altamente rico.
O
que chama atenção é a forma com que tudo isso acontece, um processo dinâmico de
atuação revelando a cada instante o momento da ficção e o da realidade sempre
caminhando entre um e outro como quem caminha sobre o fio de uma navalha,
prestes a cair e seja qual for o lado da queda, é possibilitado que o público
acompanhe e se veja na situação proposta, aumentando possibilidade de
reconhecimento e formação de opinião crítica através da peça encenada, que
aliás me parece enfatizar essa relação em que o espectador também é ator e vice
versa. Real processo de dialética proporcionado pela imagem som e capacidade
lúdica dos artistas e do público.
A
forma com que o teatro de rua se propõe em sua atuação política reveladora das questões
sociais, amplamente relacionada com o espaço e questões estéticas que refletem,
quase sempre, a situação do povo brasileiro, esta intimamente ligada numa de
contem esta contido na peça em questão. Tomara que sempre encontre nas peças de
teatro de rua do Brasil a mesma clareza, empenho e felicidade no trabalho
proposto.
Att.
* Flavio
Melo, coordenador, ator e diretor do Grupo Teatral Nativos Terra Rasgada, de
Sorocaba. Pesquisador de políticas públicas de cultura, teatro popular e
projetos de descentralização teatral em Sorocaba. Professor de teatro na ETAC –
Escola Técnica de Arte e Cultura de Sorocaba.
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