quarta-feira, 16 de março de 2011

Dia 19/12/2010 – Domingo / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra



Saída ainda de madrugada para chegar cedo a Nova Remanso, um bairro/cidade que está em vias de emancipação, atualmente pertence ao município de Itacoatiara. Embora localizada no imponente Rio Amazonas não apresentou boas condições para nossa embarcação. Foi um parto o Seu Zé Ribeiro conseguir energia elétrica, a futura cidade está mais voltada pra estrada de acesso a capital Manaus, ficando assim de costas para as atividades junto ao rio. No pequeno porto encontram-se muitas embarcações de transporte de animais, com estruturas gradeadas de madeiras e resistentes. Há também um pequeno estaleiro onde se vê barcos em conserto e outros sendo construídos. Ainda pela manhã quando chegamos Chicão deixou uma tarefa para todos, que o coletivo de artistas realiza-se uma averiguação de locais para apresentação ainda hoje a noite. Todos em polvorosa saem para conhecer a cidade, alguns de moto taxi circulam por tudo, outros a pé. Logo lá pelo final da tarde chegamos a conclusão que por ser domingo e uma final de campeonato de futebol tomava conta da cidade o ideal seria realizar um cortejo coletivo pelas ruas próximas ao porto. Chicão concordou e nos preparamos para todos tocarem e cantarem como uma parada de rua e o Léo Carnevale realizaria truques de mágicas em determinados momentos que julgasse melhor e assim fomos. Lá pelas 20h saímos em caminhada da embarcação, todos com camiseta do Projeto Banzeirando mais adereços, instrumentos e folders. Tínhamos a banda, o apresentador Afonso Xodó, as Banzeretes – todas as mulheres do cortejo, o Homem banner – Marcelo, o subcomandante do barco. Paramos em diversos locais, mas cito os de maior relevância. Certo momento estávamos dentro da área de um bar de esquina, sentados três homens bebendo, mais o dono do local. Chegamos, paramos de tocar e ficamos na formação paredão banzeirando, todos de camisetas e sorrisos estampados. Xodó pediu licença e começou uns números de mágica enquanto bebia de seus copos para refrescar a garganta. Mas diante de uma breve conversa um dos senhores, o mais cheio de pose, disse que era ex-prefeito da cidade. Xodó riu com galhardia e seguiu brincando com este fato durante as próximas mágicas, mas no momento que o ex-prefeito foi participar não conseguiu dizer as palavras mágicas. Neste momento um dos meninos da cidade que acompanhava nosso cortejo saltou e disse que sabia as palavras, pois já vira num momento anterior. Xodó o chamou e colocou no ar a seguinte provocação: - Senhoras e senhores!... agora com vocês a prova de capacidade humana deste menino em fazer esta mágica que o ex-prefeito tentou e não conseguiu!!! Bem, a mágica consistia em passar um dado de esponja da mão de uma pessoa para mão de outra pessoa, dizendo as palavras mágicas: Humanium.... Erare.... est! Era sempre uma reprodução, Xodó falava primeiro e depois a pessoa dizia igual na entonação de mistério e magia, circulando uma das mãos no ar por cima da outra. Para surpresa de todos o menino reproduziu com uma destreza vocal melhor até que o Afonso Xodó. Foi sensacional aquele momento.
Seguimos o cortejo e havia um grupo de meninas que acabara de sair do culto de uma igreja próxima ao bar. Xodó convocou todas para um número embaixo das luzes do poste. Elas aceitaram e de longe poderia se ver um grupo de pessoas (artistas e público) numa linda imagem poética embaixo de uma única luminária em meio ao escuro da rua. A última intervenção foi outra vez uma grande coincidência. Noutro bar onde muitos bebiam a vontade e felizes da vida com som mecânico no volume máximo. Chegamos de mansinho, alguém pediu pra baixar o som, a dona do bar desligou, pois queria ouvir também os músicos e o palhaço mágico. Léo sentou-se a mesa mais cheia de pessoas e logo descobriu que o motivo da comemoração era a vitória no campeonato de futebol, tínhamos ali na mesa boa parte do time campeão e o goleador do torneio. Léo se grudou no grupo de jogadores e arrebentou, foi aplaudido de pé. Saímos em fanfarra e logo encerramos os trabalhos, agora só em Manaus para encerramento do projeto.
Mas mesmo que todo artista embora ame sua arte e tenha prazer em fazê-la ainda sim ela é um trabalho e ele merece outro tipo de distração, resolvemos ir num forró. Após o banho subimos o barranco e comemos uma iguaria especial da região, as bananas fritas e salgadas. São bananas verdes cortadas ao cumprido em tirinhas bem finas, após fritadas acrescenta-se um pouco de sal, ficam crocantes e saborosas muito degustadas por esta época. Depois todos de moto taxi se deslocaram para um sitio onde rolava o tal forró. Local movimentado, curtimos um som que uma banda fazia ao vivo, alguns dançaram, beberam, outros apenas apreciaram a linda paisagem do lago diante da lua cheia que se formava. Não demoramos muito por lá, além do cansaço amanhã permanecemos nesta localidade para realizar uma avaliação coletiva do Projeto Banzeirando – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia.
Vamo que vamo!!


Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

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